“O Circo dos Objetos” Teatro de Formas Animadas do Brasil, foi uma lição de destreza, precisão e deixou os mais incrédulos espectadores com a firme certeza que a imaginação não é limitada à aparente utilidade dos objetos, a sua manipulação pode transformar a nossa fantasia, conduzindo-nos a pequenas aventuras em que o objeto de uso cotidiano ganham vida, transportando-nos a pequenas animações muito aplaudidas” (Jornal de Valongo do Vouga/Portugal)”
Melhores Dias Virão para Essa Infância Desprotegida
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Jair Alves – dramaturgo e escritor
O assunto ainda é a Mostra de Teatro de São José dos Campos neste ano de 2012. Sigamos então com as análises críticas, com um certo atraso, motivado pelo volume de peças, informações, acontecimentos e discussões não totalmente digeridas ao longo desses dez dias. Deixamos para trás os espetáculos destinados à infância e juventude, mesma sendo uma avaliação modesta, até porque não nos considerarmos mestres de coisa nenhuma, a respeito de espetáculos destinados exclusivamente às crianças. Com absoluta franqueza vamos falar a respeito de duas iniciativas como parte da programação. Falamos da peça Maravilhosas Histórias para Albak e Sitio dos Brinquedos (O Sítio dos Objetos) que podem tranqüilamente ser consideradas acima da média como produção para platéias sem limitação de idade. Falamos isso levando em consideração toda produção do teatro profissional que se faz no Brasil. Poderia até parecer contraditório afirmar com tanta segurança a respeito, quando confessamos não ser conhecedores dessa atividade artística, no entanto, se considerarmos que criança tem um canal de sensibilidade mais amplo dos que os “crescidinhos” não é difícil admitir que tanto Grupo Caixa de Histórias, como Formas Animadas tratam com muito respeito os brasileirinhos que já estão por ai, embora sem direito a fala e voto, coisas que ainda não lhes são permitidas. Esse elogio se torna mais contundente quando neste mesmo palco do Teatro Santana aconteceu, digamos cá entre amigos (*), um acidente neste encerramento de Mostra no domingo à noite. Cruz Credo! Vamos abrir um tópico para discussão onde já sabemos o nome – Sincretismo Ideológico e a Mula Sem Cabeça, onde convidamos a todos que lá estiveram presentes a manifestar seu ponto de vista. Enquanto isso falaremos isoladamente dos dois espetáculos citados acima com seriedade. Dedicamos esses dois espetáculos a duas grandes amigas: Amanda e Laura.
… Não há dúvida de que Mariza Basso é uma das profissionais mais importantes da arte de animação. A prova está neste Sitio dos Objetos. Com recursos materiais de uso diário comum a qualquer cidadão, ela consegue construir um cenário que retrata a vida bucólica do campo. A pequena história que sustenta a peça é baseada no dia a dia de um simplório personagem rural que se relaciona com os animais como se os mesmos fizessem parte de sua família. A luta da Companhia Formas Animadas é o retrato do artista talentoso que ainda não teve a oportunidade necessária para expandir o horizonte de seu trabalho. O espetáculo não menospreza a inteligência do adulto e a sensibilidade da criança, contrastando com uma certa febre reinante na produção teatral nacional. Felizmente essa bobagem de se considerar acima de Deus e do Diabo teve manifestação pequena na Mostra, e com certeza terá um tratamento adequado.
Ao final podemos dizer é que as duas peças infantis programadas e analisadas acima ajudaram compor uma impressão altamente positiva no conjunto do evento.
Obgestos 1,99 por Miriam Fontana
Hoje, 02 de junho, iniciamos a Mostra Itinerante da MOSTRA Pde TEATRO com o espetáculo “Obgestos 1,99”, do grupo Mariza Basso Formas Animadas. A apresentação foi na E.E. Baudílio Biagi, Bairro Adelino Simioni, pela manhã, aos alunos do Fundamental I. A diretora Fernanda e equipe da escola receberam os integrantes da Mostra com afeto e agradecimento. É muito bom sentir o carinho da escola anfitriã. Como o pátio e o palco da escola eram pequenos, o espaço escolhido foi a quadra. Eu fiquei numa cadeira, mas gostaria de ter a disponibilidade física e corporal para assistir sentada no chão, junto com as crianças.
Mais do que um cenário, objetos em cena. Estantes de canos de PVC, vassoura, banquinhos, rádio, toalha de mesa, prancheta, cesto com escovas, cabide, prendedores grandes, tecidos felpudos, um relógio de pulso grande pendurado, que não funciona direito, e que serve aos interesses do chefe para burlar o atraso, um ponto para marcar a entrada dos funcionários, que aliás arrancou gargalhada da plateia com o sonoro “CRÁ-CRÁ”, uma mesa de passar que não era para passar… Bem, na verdade os objetos mais serviam aos gestos do que para suas funções originais. É isso que o espetáculo propõe, o lúdico, a brincadeira.
Espaço demarcado com fita amarela que fez a divisão do espaço cênico e plateia e eis que toca o 3° sinal. É sempre uma emoção, o espetáculo vai começar.
O espetáculo decorre sem a palavra falada e a narrativa é realizada pelas ações dos atores palhaços Mariza Basso (Chefe) e Victor Deluzzi (Faz Tudo). A princípio a relação entre os personagens se estabelece pelo poder, quem manda e quem obedece, e pela competição do funcionário do mês. Embora o espetáculo não tenha a voz falada e seja sublinhado pela trilha sonora original de Nél Marques e Amauri Muniz, as crianças na plateia complementam a dramaturgia, interagindo com os palhaços.
E assim segue o espetáculo, propondo inversões: o animal que adestra o homem, e tantas outras funções para os objetos da cena. Não vou dar spoiler da utilização do suporte dos copinhos de café, que foi usado numa cena inusitada. Inusitado também o rádio, que nos remete a um tempo antigo, que “na real” não é tão antigo assim. Se os personagens fossem “de hoje”, certamente teríamos o celular em cena. Que proposta maravilhosa jogada pelos palhaços: será que ao invés de estarmos no planeta condenados ao trabalho, não podemos aprender a trabalhar com leveza?
Na sutileza da comunicação que Obgestos 1,99 oferece, os objetos de preço popular propõem grandes desafios. É possível trabalharmos pela paz ao invés do que presenciamos atualmente, o planeta explodindo em tantas guerras? É possível estabelecermos na relação humana a cooperação mais do que a competição?
A apresentação que assisti foi a primeira de quatro que o grupo de Bauru vai realizar em Ribeirão Preto. A relação estabelecida na plateia chamou minha atenção. Essa é uma grande questão. As professoras e alguns alunos maiores estavam empenhados na disciplina da plateia. Como é difícil discernir o limite entre a bagunça e a interação com o espetáculo. Sim, o tema central do espetáculo, mandar e obedecer, é um aprendizado que nossa sociedade precisa desenvolver muito mais.”
Míriam Fontana